Oséias, o profeta do amor
OSÉIAS I – Nome e personalidade – O nome de Oséias, como os de Josué e Jesus,
provenientes da mesma raiz hebraica, significa “salvação”, “ajuda” e
“libertação”. É provável que o profeta fosse natural de Israel do Norte,
segundo indicam suas freqüentes alusões ao Líbano, Samaria, Betel, Jezreel e
Ramá. Como um filho do campo, como um rústico, Oseías sacou muitas de suas
pequenas e encantadoras figuras do lar, do horto e do rancho, conforme os
versos Oséias 4:16; 7:4-8; 8:7; 10:11; 11:4; 13:3,15; 14:7. Aqui se encontram
os contrastes com Amós, o qual retrata as áridas montanhas de Judá e o Mar
Morto. Oséias é o missionário nacional de Israel do Norte, assim como Jonas o
foi do exterior. Ele era manso, pensativo, inclinado à melancolia, mas também
franco, afetuoso e cheio de patriotismo. Ele foi o Jeremias do reino do norte.
Ambos foram ardentes patriotas, possuindo natureza religiosa e altamente
sensível. Jeremias foi mais consciente de si mesmo em sua dor. Oséias foi mais
delicado e controlado. Jeremias foi mais um teólogo, Oséias foi mais um poeta.
Seu livro é uma profecia e ao mesmo tempo também, um dos mais evangélicos. II –
O seu tempo –Ler Oséias 1.1. Por isso Oséias, como Amós, começou a profetizar
em tempo de grande prosperidade. O Rei Jeroboão II encabeçava um despotismo
militar arrogante, como um verdadeiro descendente de Jaú. Em seus dias, Israel
esteve no ápice da prosperidade militar, mas, ao mesmo tempo, despencava com
rapidez na corrupção moral. Em 2 Reis nos informa que na morte de Jeroboão
aconteceram dissensões internas, com políticos rivais sacrificando os
interesses da nação aos seus próprios interesses, com o poder nacional
declinando seriamente (Os10:7). Jeroboão foi, realmente, o último homem forte
de Israel. Dos seis reis que o sucederam, somente Menaém morreu de morte
natural. “Conspiração” era a chave da história desse período, conforme a 2 Reis
15. Zacarias reinou por seis meses, Salum, por um mês apenas. Em seu desespero,
primeiro os reis se inclinavam numa direção, em seguida noutra, havendo logo um
ou outro que se inclinava pela ajuda estrangeira, pagando tributo
alternadamente à Assíria e ao Egito, até perderem definitivamente a
independência e a autonomia nacional, esgotando os seus recursos e vendo-se
forçados a se tornarem vassalos da Assíria. Quando acabou a sua independência,
o declínio veio rápido. Para um patriota como Oséias, era terrível pedir ajuda
aos governos estrangeiros (Oséias 8.9 e 10.6). Semelhante política não
remediava a enfermidade moral da nação (Oséias 5.13). As coisas iam de mal a
pior (Oséias 4.1-2). As condições eram terríveis. A religião havia se
transformado na idolatria mais sensual. A vida familiar se fez dissoluta, razão
pela qual o profeta a condenou mais que tudo. Em toda parte havia oposição
entre os homens, sendo desesperadora a perspectiva da nação. O sol de Israel ia
se pondo e somente um profeta poderia discernir o trágico fim da nação. De
fato, pouco tempo depois que Oséias deixou de profetizar, o povo foi levado
cativo para a Assíria pelo rei Sargão (2 Reis 17). III - Duração do ministério
de Oséias – Alguns crêem que o seu ministério ativo perdurou apenas dez anos.
Essa opinião se apóia nas referências do profeta a Gileade, em Oséias 6:8 e
12:11, as quais parecem indicar que o profeta ignorava a guerra entre a Síria e
Efraim (734 a.C). Contudo, mais recentemente, há discordância se Oséias não faz
referência esse evento.Visto que Oséias terminou o seu ministério antes do rei
Oséias ter subido ao trono, pode-se acreditar que as profecias de Oséias se
estenderam sobre um considerável período da história de Israel, o qual poderia
ser colocado entre 750 e 725 a.C. IV – A vocação de Oséias - (Capítulos 1-3). A
história pessoal de Oséias pode ser interpretada como um símbolo pessoal da
experiência de Javé com Israel e pode ser considerada como a chave do seu
ensino. Com delicadeza e sem egoísmo, ele narra a trágica história de sua vida
familiar. Esta infundiu como um fogo em sua alma duas idéias: o amor e a
fidelidade de Javé por Israel e a infidelidade e ingratidão de Israel para com
Javé. Vejamos o que dizem os versos Os 1.1,2. A mulher escolhida foi Gomer, a
qual lhe deu dois filhos e uma filha: Jizreel (vingança), Lo-Ruama (sem
compaixão) e Lo-Ami (vós não sois meu povo), nomes que significavam o
julgamento que, inevitavelmente, iria recair sobre a casa de Jeú. Gomer era
infiel aos votos matrimoniais. Metendo-se em orgias desenfreadas a Baal e
Asterote, ela caiu na escravidão sensual. Logo em seguida, Oséias a redimiu por
15 siclos de prata e 1,5 ômer de cevada (Oséias 3:2). Desse modo, pelas
amarguras sofridas no próprio lar, o profeta aprendeu o amor inextinguível de
Javé. Toda a sua história conduz à experiência da realidade. De fato, somente
com uma história verdadeira as palavras do profeta poderiam surtir efeito. Sua
própria experiência serviu como um espelho vivo das relações infiéis de Israel
para com Javé. Em toda a literatura mundial dificilmente encontraremos uma
história de amor que se compare à de Oséias. Sua paixão por Gomer não era
simplesmente uma forte explosão de sentimento. Era, antes de tudo, um fogo
consumidor encerrado em seus ossos, o qual nenhuma infidelidade de Gomer
poderia abrandar e nem o sofrimento pessoal de Oséias poderia extinguir. Por
isso ele é chamado, apropriadamente, “O Profeta do Amor”. V - A mensagem de
Oséias - (Capítulos 4-14) - Sem dúvida, em toda parte a sua personalidade é
revelada, a maior parte, provavelmente, pelas muitas notas colecionadas com
esmero, durante anos. Com muita propriedade esse livro tem sido descoberto como
um “amplo monólogo apaixonado, interrompido por soluços”. Ou então, como dizem
outros: “mais soluços do que palavras”, o que se torna claro: os capítulos 1-3
falam do mensageiro, enquanto os capítulos de 4-14 falam da mensagem. A
primeira seção é uma espécie de autobiografia espiritual, meio narrativa, meio
profética, com o confesso amante atormentado à causa de um coração, o qual,
pela angústia do amor humano ultrajado, conquistou o segredo do amor divino. A
segunda seção consiste numa série de sermões, meros fragmentos de admoestação e
promessas, sem quaisquer divisões claramente indicadas. A razão desse tipo
mesclado e desconexo de discurso profético se torna perfeitamente clara,
especialmente quando reconhecemos que a teologia de Oséias é a do coração em
vez da teologia da cabeça. Apesar disso, é possível traçar, por propósitos
homiléticos, os sucessivos passos na destruição nacional de Israel, como segue:
1º. - A falta de conhecimento, conforme o verso Os 4:6: “O meu povo foi
destruído, porque lhe faltou o conhecimento; porque tu rejeitaste o
conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de
mim; e, visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de
teus filhos”. Isto significa “falta de bom senso”, acusação fundamental de
Oséias. A nação ignora a lei de Deus. O povo é sensivelmente estúpido, sem
juízo, conforme diz o verso Oséias 4:11: “A luxúria, e o vinho, e o mosto tiram
o coração”. A palavra “coração” em Hebraico equivale à palavra “senso”,”discernimento’.
Desse modo, a repreensão fundamental do profeta é intelectual. 2º. - O orgulho
- (verso 5:5) - “A soberba de Israel testificará no seu rosto; e Israel e
Efraim cairão pela sua injustiça, e Judá cairá juntamente com eles”. Isso quer
dizer que Israel tem um coração enfermo. O povo não somente era patriota como
era também arrogante. Efraim tentou rivalizar com os pagãos como um poder
mundano. A prosperidade de Jeroboão se tornou em tropeço para a nação. 3º. -
Instabilidade - (Verso 6:6) – “Por isso os abati pelos profetas; pelas palavras
da minha boca os matei; e os teus juízos sairão como a luz...” 4º. - Mundanismo
- (Versos 7-8) - “Mas eles transgrediram a aliança, como Adão; eles se portaram
aleivosamente contra mim. Gileade é a cidade dos que praticam iniqüidade,
manchada de sangue”. Isso quer dizer que a política da nação era má. Por falta
de entendimento, Efraim buscou alianças com o Egito e a Assíria, tratando Javé
de modo leviano. A nação, sem dúvida, havia sido comandada estritamente pelo
grande Legislador a ficar separada dos outros povos. Além disso, Efraim era uma
torta, ao redor da qual não se havia dado volta, meio cozida de um lado e meio
queimada do outro. Alguns eram demasiadamente ricos, outros pobres ao extremo,
fervorosos na política, frios na religião, ficando demasiadamente separados nos
extremos da sociedade. 5º. - A corrupção - (Versos 9:9-10) – “Muito
profundamente se corromperam, como nos dias de Gibeá; ele lembrar-se-á das suas
injustiças, visitará os pecados deles. Achei a Israel como uvas no deserto, vi
a vossos pais como a fruta temporã da figueira no seu princípio; mas eles foram
para Baal-Peor, e se consagraram a essa vergonha, e se tornaram abomináveis
como aquilo que amaram”. A
religião estava apodrecida. Era extrema a corrupção na política, como era
imperdoável na religião. Israel praticava a fornicação espiritual, disfarçada
sob a capa da religião, buscando a Baal-Peor. 6º. Apostasia - (Verso
11:7) - “Porque o meu povo é inclinado a desviar-se de mim; ainda que chamam ao
Altíssimo, nenhum deles o exalta”. A apostasia já se transformara num hábito.
Os homens pereciam por causa dos seus próprios conselhos perniciosos, conforme
o verso 11:6: “E cairá a espada sobre as suas cidades, e consumirá os seus
ramos, e os devorará, por causa dos seus próprios conselhos”. A vingança contra
o mal era preparada pela própria nação e seus conselheiros. Mesmo assim, Javé
deseja salvá-la, como vemos no verso 11:8: “Como te deixaria, ó Efraim? Como te
entregaria, ó Israel? Como te faria como Admá? Te poria como Zeboim? Está
comovido em mim o meu coração, as minhas compaixões à uma se acendem”. (Ver
Salmos 23:6). 7º. - A idolatria - (Verso 13:2) - “E agora multiplicaram
pecados, e da sua prata fizeram uma imagem de fundição, ídolos segundo o seu entendimento,
todos obra de artífices, dos quais dizem: Os homens que sacrificam beijem os
bezerros”. Israel foi realmente culpado de completo abandono ao Senhor. Profeta
algum jamais menosprezou os deuses fabricados como o fez Oséias. De fato, ele
denunciou os pecados de Israel nesse tipo de infidelidade a Javé. VI - A
mensagem de Oséias para nós - Oséias nos ensina uma lição geral de valor
permanente: que a corrupção interior de uma nação coloca a sua existência em
maior perigo do que os seus inimigos. Outra lição semelhante, estreitamente
relacionada com esta, é que o patriota mais fiel é aquele que, como Oséias,
identifica-se com o seu povo, sentindo tristeza por suas calamidade como se
fossem suas, arrependendo-se dos seus pecados, como se ele próprio os tivesse
cometido. A mensagem de Oséias, portanto, jamais se tornará obsoleta. O Deus da
história antiga é o mesmo Deus da história moderna. Todos os eventos nacionais
continuam sob a superintendência divina. Contudo, o Deus de Israel escolheu os
Seus agentes, tanto nacionais como individuais. A palavra hebraica “hesed”,
tantas vezes encontrada o Livro de Salmos, tem uma significação muito parecida
com a palavra “graça” no Novo Testamento. Ela é usada seis vezes por Oséias
(Oséias 2:9; 4:1; 6:6; 10:12; e 12:6), devendo ser traduzida por compaixão,
misericórdia e bondade. Por isso Oséias é considerado “O Profeta do Amor”.
http://iset-teologia.blogspot.com.br/
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