HULDA, UMA
MULHER QUE AJUDOU UMA NAÇÃO APÓSTATA A VOLTAR A DEUS.
"O
termo profecia, na Bíblia, (no hebraico nebu'ab) não se refere primeiramente à
predição de acontecimentos futuros, no sentido em que se prevê o tempo ou as
finanças. Refere-se, sim, à proclamação da vontade de Deus sentida
intuitivamente com respeito a uma situação específica na vida de um indivíduo
ou de uma nação."*
2
Crônicas 34:22-33
(Ler
também 2 Crônicas 34:1-21; 35:1-19)
Embora
o seu nome significasse "doninha", felizmente Hulda não permitiu que
isso afetasse o seu caráter. A sua vida não se parecia de modo nenhum com esse
animalzinho tímido e parecido com a marta. No tempo em que Hulda viveu, eram
necessárias pessoas que ousassem falar corajosamente das suas convicções, que não
tivessem medo de agir.
Hulda
era uma profetisa, uma mulher que servia como porta-voz de Deus. A sua vocação
especial não a colocava fora do seu meio social, pois era ao mesmo tempo uma
dona-de-casa.
Hulda
era esposa de Salum, o homem responsável pelo guarda-roupa do rei Josias. Como
toda a mulher casada deve fazer, ela cuidava diariamente do marido. Mas o
casamento não constituía impedimento à execução da sua tarefa. Conseguia
harmonizar uma responsabilidade com a outra. Nessa altura, Israel tinha também
dois profetas, Jeremias (Jer. 25:1-7) e Sofonias (Sof. 1:1-6), que
continuamente insistiam com o povo para voltar a Deus.
Os
israelitas tinham abandonado o Senhor. Já não obedeciam à Sua Palavra. A nação
havia-se tornado apóstata. Embora Israel se tivesse afastado das leis que
Moisés tinha dado seis séculos antes, o povo ainda continuava fiel à letra
daquelas leis. Segundo essas leis, os israelitas tinham podido contar com uma
bênção e prosperidade excepcionais da parte de Deus, pois eram o Seu próprio e
nobre povo. Ele havia-os escolhido acima de todas as outras nações (Dt. 7:6).
Todavia, aqueles privilégios tinham estado dependentes de uma condição: o povo
tinha de permanecer fiel a Deus.
Se
eles deixassem de ser fiéis, os resultados seriam trágicos. Se rejeitassem a
Deus, Ele os rejeitaria também (Osé. 4:6). Catástrofes indizíveis cairiam sobre
eles, e no fim não permaneceriam na terra que Deus lhes tinha prometido através
de Moisés (Dt. 28:1-64).
Com
esta chamada à obediência, Deus tinha dado ao Seu povo um padrão pelo qual ele
deveria aferir a sua vida: os Seus Mandamentos. Para tornar possível essa
obediência, Ele havia descrito cuidadosamente essas leis. O Seu povo não estava
às escuras quanto ao que Deus esperava dele. Sabia exatamente o que Deus requeria.
Para
impedir que os israelitas esquecessem os Seus mandamentos, Ele disse-lhes que
escondessem as leis nos seus corações. Deviam ensinar aos filhos a Palavra de
Deus e deixar que as suas vidas individuais e as das famílias fossem permeadas
por pensamentos a respeito dEle. Todas as suas atividades deviam ser
influenciadas pela orientação de Deus (Dt. 6:6-9).
Por
conseguinte, a obediência à Palavra de Deus não seria muito difícil para os
israelitas. Essa obediência não ficava fora do seu alcance nem acima das suas
forças. Pelo contrário, eles tinham ouvido as Suas leis desde a infância e
levavam-nas no coração, prontos para as recitarem sempre que necessário (Dt.
30:14). Tudo o que Deus esperava deles era disposição para viverem de acordo
com a Sua orientação. Isso seria feito com a Sua ajuda e por meio do Seu poder.
Desse modo, todo o mundo poderia constatar a felicidade de uma nação que andava
com Deus.
Ao
princípio, especialmente enquanto os israelitas foram governados por reis bons,
tudo corria perfeitamente. Durante o reinado de Davi, que se tinha mantido
apaixonadamente fiel a Jeová, Deus tinha abençoado Israel. No tempo de Salomão,
filho de Davi, que tinha sido amado pela sua piedade e sabedoria, a fama de
Israel estendeu-se.
Todavia,
a partir daí, os israelitas tinham ido gradualmente degenerando na sua vida
espiritual. Afastavam-se cada vez mais do seu pacto com Deus. Poucos dos
anteriores reis israelitas se tinham desviado tanto de Deus como Manassés e
Amom, avô e pai do rei que então governava. Poucos outros reis haviam sido tão
ímpios, tão apóstatas. Nenhum tinha servido os ídolos de modo tão repulsivo (2
Crôn. 33:1-25).
Hulda
dava as suas audiências perto dos edifícios do templo. Aí, no seu posto na
parte nova de Jerusalém, dava diariamente conselho ao povo em relação ao
Senhor. A despeito da apostasia de Israel, ainda havia algumas pessoas
interessadas em conhecer a vontade de Deus.
Hulda
desempenhava abertamente os seus deveres, sem qualquer impedimento. Não
precisava se esconder, como havia acontecido com outros profetas. Pela primeira
vez, depois de muitos anos, Judá tinha um rei que servia a Deus. O rei Josias,
seguindo nos passos do seu ilustre antepassado, Davi, obedecia cuidadosamente
às leis de Deus e não se apartava delas. Sem dúvida que a sua dedicação a Deus
era o resultado da influência de sua mãe Jedida. Ele começou a purificar a
terra dos ídolos, destruindo os altares dos deuses falsos e reduzindo os ídolos
a pó. Contratou também trabalhadores para consertarem e melhorarem o templo de Deus
(2 Crôn. 34:1-13).
No
local onde atendia as pessoas, Hulda fora-se acostumando ao barulho das obras
no templo. Foi então que, numa tarde, viu que cinco homens se aproximavam.
Reconheceu facilmente Hilquias, sumo-sacerdote, e Safã, o secretário, e vários
outros servos do rei. Vinham com expressões sérias e mediam bem as palavras.
"Quando
se tirava o dinheiro que se havia trazido à Casa do SENHOR, Hilquias, o
sacerdote, achou o Livro da Lei do SENHOR, dada por intermédio de Moisés.
Então, disse Hilquias ao escrivão Safã: Achei o Livro da Lei na Casa do
Senhor" (2 Crôn. 34:14-15).
"Relatou
mais o escrivão ao rei, dizendo: O sacerdote Hilquias me entregou um livro.
Safã leu nele diante do rei. Tendo o rei ouvido as palavras da lei, rasgou as
suas vestes" (vv. 18-19).
O
rei sente-se envergonhado pelo pecado do Seu povo. Compreende que a situação é
muito séria, pois receia a ira de Deus.
Hulda
logo compreendeu que os homens tinham vindo ter com ela para descobrir a
vontade de Deus em relação a este livro que fora encontrado. Se ficou admirada
por o rei a ter consultado a ela em vez de ao profeta Jeremias, por exemplo,
não o manifestou. Como outras profetisas no passado – Miriã (Êxo. 15:20) e
Débora (Juí. 4:4) – Hulda estava habituada a trabalhar com homens, com
naturalidade e dignidade.
Deus
precisava de um ser humano que pudesse proclamar a Sua Palavra na terra. Na
maioria dos casos usava os serviços dos homens, mas nesta época particular usou
uma mulher.
Hulda
compreendia perfeitamente que, como mulher, não devia tentar competir com os
homens. Nem tampouco procurava escapar à suas responsabilidades, só porque era
mulher. Deus procurava uma pessoa que pudesse servir como instrumento; o sexo
dessa pessoa era secundário no Seu plano.
Paulo
explicou claramente este princípio quando escreveu que não é a natureza de um
instrumento mas a sua eficiência que o torna útil para Deus. Não importa, por
exemplo, se um vaso é de ouro, de prata, ou de barro, contanto que seja
santificado e "idôneo para uso do Senhor, preparado para toda a boa
obra" (2 Tim. 2:20-21).
Jeová
seja louvado, pensava Hulda. Josias não quer tratar o Livro da Lei como uma
antiguidade que faz parte de uma coleção. Ele compreende que o Livro de Deus
não pode ser considerado um ornamento numa biblioteca real. A Lei existe para
ser aplicada.
Hulda
não pôde deixar de reconhecer a autoridade do Livro da Lei que acabava de ser
encontrado. A sua resposta foi clara, sem reservas. Não mostrou qualquer
constrangimento, pois foi o próprio Deus que falou pelos seus lábios,
desafiando o povo.
"Assim
diz o Senhor, o Deus de Israel: Dizei ao homem que vos enviou a mim: Assim diz o Senhor ...." Aquelas quatro
palavras – "assim diz o Senhor" – eram as que davam crédito ao que
ela dizia como profetisa (2 Crôn. 34:23-24).
Hulda
predisse então a ruína nacional do povo. Eles não tinham dado importância à
Palavra de Deus e tinham apostatado, servindo os ídolos em vez de o Deus vivo.
A mensagem que ela apresentou foi portanto uma mensagem terrível e de
condenação (v. 25) mas Hulda não escondeu nada. Não temia os resultados que
essas palavras pudessem ter sobre si própria.
Contudo,
as palavras de Deus não continham apenas condenação; falavam também de graça.
Deus tinha notado o amor e a fidelidade que Josias mostrara para com Ele, a sua
pronta resposta às Escrituras. Por isso, adiou o Seu julgamento para depois da
morte do rei (v. 26-28). Então, no tempo do rei Zedequias, o juízo seria
executado sobre o povo. Nessa altura, o cálice da ira de Deus estaria a
transbordar. Já não seria possível qualquer restauração, pois Israel não tinha
respondido aos repetidos apelos de Deus para a conversão (Jer. 29:19). A nação
tinha ignorado as Suas ordens: "Ó terra, terra, terra, ouve a palavra do
Senhor!" (Jer. 22:29) Jerusalém e o templo seriam destruídos, e as pessoas
forçadas a ir para o exílio (2 Crôn. 36:15-21).
Depois
de os mensageiros terem entregado a forte mensagem de Hulda ao rei, este já não
tinha qualquer dúvida de que Deus havia falado por ela. Viu também claramente
que se tornava necessário agir de imediato.
Logo
ele foi ao templo com os líderes do povo e leu a Lei de Deus a todos os
habitantes de Jerusalém e Judá, tanto pequenos como grandes (2 Crôn. 34:30).
As
pessoas ouviram atentamente. Como no caso do rei, ficaram convictas de que Deus
havia falado através da profetisa Hulda. Em conseqüência, começou um avivamento
entre o povo, como jamais se havia conhecido. O rei, os líderes e a nação
inteira fizeram um novo concerto com Deus. Juntos afirmaram solenemente que
dali em diante serviriam ao Senhor. Estavam prontos a obedecer à Sua Palavra
com todo o coração e com toda a sua alma.
Disso
resultou uma reforma completa. A purificação da idolatria continuou a ser feita
e estabeleceram-se limites morais. Esta atividade não se limitou à cidade
capital. Todo o país – de Geba ao norte até Berseba no sul – ficou envolvido (2
Reis 23:4-8). Mas o mais importante de tudo, foi celebrarem de novo a Páscoa.
Os israelitas tinham-se esquecido de como Deus os havia livrado no passado.
Haviam descurado o sacrifício que apontava para a vinda de Cristo. Haviam
deixado no olvido a comemoração do êxodo do Egito, um acontecimento que Moisés
tinha instituído da parte de Deus como uma festa anual (Êxo. 12:1-7; 23:14-15).
Havia muitos anos que não se fazia tal celebração.
Josias
continuou a viver de acordo com a norma que Deus tinha estabelecido para o rei.
Através de Moisés, o Senhor definira a atitude que o rei devia assumir em
relação à Lei de Deus: "Quando se assentar no trono do seu reino,
escreverá para si um traslado desta lei num livro, do que está diante dos
levitas sacerdotes. E o terá consigo e nele lerá todos os dias da sua vida,
para que aprenda a temer o Senhor, seu Deus, a fim de guardar todas as palavras
desta lei e estes estatutos, para os cumprir" (Dt. 17:18-19).
Depois
da sua meditação e aplicação à Palavra de Deus, Josias experimentou a bênção
divina, uma verdade que muitos outros rolos tinham descrito (Jos. 1:8; Sal.
1:1-3). Tal como a desobediência acarretava a maldição de Deus, assim a obediência
era seguida pela Sua bênção.
O
fato de dar ouvidos às palavras da Escritura não mudou apenas a vida do rei
Josias; toda a nação se modificou. Verificou-se a reforma do culto mais
completa que alguma vez se conhecera em Judá. Uma nação apóstata voltou ao seu
Deus vivo.
Contudo,
o juízo definitivo de Deus não podia ser retirado. Demasiadas gerações de
israelitas tinham pecado profundamente. Mas as pessoas que viveram durante o
período da profetisa Hulda receberam vários anos de prorrogação.
Embora
o nome de Hulda só iluminasse por momentos a história, a influência da sua vida
foi enorme. Controlou o destino duma nação inteira porque associou o seu nome
com a Palavra de Deus. Hulda conhecia essa Palavra, portanto podia livremente
exortar e encorajar as pessoas com ela.
Ao
contrário de outros profetas e profetisas, ela não revelou quaisquer segredos
sobre um futuro distante. Ocupou-se da tarefa de revelar a vontade de Deus
através de um meio que Ele tinha usado durante séculos. Aplicou a Sua Palavra à
situação especial da nação israelita e ao seu povo individualmente. Ajudou-os a
descobrir verdades perdidas. Quando o seu povo deu de novo atenção à Palavra de
Deus - ouvindo-a, lendo-a, estudando-a, meditando nela – coisas maravilhosas
começaram a acontecer. Quando os seres humanos estão prontos a fazer o que Deus
espera deles, verificam-se maravilhas que ninguém imaginaria possíveis.
Como
muitas outras mulheres, Hulda era uma dona-de-casa. Todavia, a sua dedicação à
Palavra de Deus e a sua coragem em se aliar fortemente com ela distinguiu-a da
maior parte dos seus compatriotas. Quando a grande oportunidade da sua vida
chegou, ela estava preparada.
Hulda,
uma mulher que ajudou uma nação apóstata a voltar a Deus
(2
Crônicas 34:22-331 ler também 2 Crônicas 34:1-21; 35:1-19)