Evolução
da Lei do Amor
"Olho
por olho, dente por dente"
A
famosa "lei do talião", pode não parecer, é um avanço. O livro do
Gêneses aponta Lamec, descendente de Caim, como sendo o "inventor" da
vingança. Por uma ferida se mata um homem; por um arranhão, um jovem. Se se
vinga Caim sete vezes, Lamec vinga setenta e sete! (Gn 4,23). Essa lei, que se
encontra também no Código de Hamurábi e em leis assírias, visa coibir abusos. A
punição se limita agora ao grau da ofensa.
Também
se observa avanço na forma de tratar a ofensa: não só pelo ato em si, mas pela
intenção. O homicídio premeditado cairia na lei do talião, vida por vida. O
homicida involuntário, acidental, deveria ser protegido do "vingador de
sangue", podendo até se refugiar no santuário.
Como
em todo o Pentateuco, essa lei também, a seu modo, quer garantir a vida. A lei
punitiva não tem função remediativa mas preventiva. O homem que cava um poço e
não o tapa é responsável pelo que nele cair (Ex 21,34). Se alguém fizer uma
fogueira no seu campo e o fogo se alastrar para o campo de outra pessoa, o
causador do incêndio pagará todo o prejuízo (Ex 22,5). Ao longo do tempo as
punições extremas vão se amenizando a ponto de serem substituídas por resgates
ou pelo perdão.
O
fato destas leis estarem inseridas na Lei do Sinai não pode ser interpretado
como sendo leis "ditadas" diretamente por Deus. As leis do Sinai são
anacrônicas se tomadas literalmente. Tratam de coisas que não existiam no
deserto, "três meses depois da saída do Egito" (Ex 19,1), onde o
texto é colocado, como campos, templos. A vida em sociedade exige que se
conheça a autoridade. Então toda a lei é remetida a um momento primordial,
fundante, a um patriarca e ao próprio Deus.
O
ápice da evolução das leis bíblicas anti-violência se dá em Jesus, que no
sermão da montanha desenvolve toda a Lei e os Profetas. "Ouviram o que foi
dito aos antigos: Näo matarás. E ainda: Aquele que matar alguém terá de
responder em
julgamento. Mas eu digo-vos: Todo aquele que se irritar
contra o seu semelhante terá de responder em julgamento; aquele que insultar o
seu semelhante, chamando-lhe "imbecil", será julgado pelo tribunal; e
aquele que lhe chamar "estúpido" merece ir para o fogo do
inferno" (Mt 5,21s). Jesus, em
sua Lei do Amor, eleva a crime a mínima ofensa: note-se o
jogo de que quanto menor a ofensa, maior a pena.
"Ouviram
o que foi dito: Olho por olho e dente por dente. Mas eu digo-vos: Näo resistam
a quem vos fizer mal" (Mt 5,38-39). Jesus não ensina aqui a passividade
frente ao mal, mas a extinguir o ciclo do mal, provocando no agressor a
reflexão sobre a verdade: "Se disse alguma coisa de mal, mostra onde está
o mal. Mas se o que eu disse está certo, por que é que me bates?" (Jo
18,23).